Um Artista na Família...
Todos nós nascemos com um Dom.
Uns sabem cantar..
Outros conseguem compor música, e tocá-la como ninguém....
Alguns têm o dom da escrita, de brincar com as palavras...
E outros conseguem fazer verdadeiras obras de arte, com um pincel...
Por acaso, eu posso dizer, com orgulho, que tenho um artista em casa. O José tem o dom da pintura. Dêem-lhe uma tela e um pincel, e fica horas debruçado sobre o quadro, a aperfeiçoar, o que para mim, já está perfeito.
Sempre preferiu as paisagens coloridas ou sombrias, aos retratos de pessoas, aos rostos pormenorizados. Olhos esguios, narizes empinados, cabelos despenteados.
Definitivamente, uma bela paisagem.
O campo, o mar, as árvores. Porque nas paisagens, o perfeito evidencia-se num mar agreste, numa montanha rochosa, repleta de declives.
No que toca à pintura, o José sempre foi muito perfeccionista. Até parece que o estou a ouvir:
- O segredo está nos acabamentos.
Sim, José, eu cá acho que o segredo está no Amor que colocamos em cada pincelada, em cada frase que escrevemos, em tudo o que nos dá prazer.
- São três da manhã!!! Não vens deitar-te? - perguntei eu muitas vezes, quando estava a meio de um quadro, que embora mais que terminado, para ele faltava sempre qualquer traço.
E voltando para a cama, ainda o ouvia a falar "Falta algo aqui, que não estou a ver o que é!"
O artista da casa reproduz de tudo um pouco. A sua especialidade são as pinturas a óleo, e a carvão.
Claro que, quando nos conhecemos revelou-me o seu dom, e eu pedi-lhe para mostrar-me o seu talento, Foi a minha primeira encomenda. Um retrato a carvão, com base numa fotografia minha, quando tinha quinze anos.
Convenceu-me de imediato.
Tanto que passado um ano e meio, estávamos casados.
- José, o que achas de oferecer-me uma prenda, pelo nosso casamento! - lancei eu o isco, já com uma paisagem que tinha em mente, para a parede do nosso quarto.
E nasceu, passados uns meses a pintura mais bonita que tinha feito, até então, pelo menos para mim.
Uma montanta, coberta de neve, iluminada por uma lua redonda e viva.
- Então, e o meu presente de casamento? - perguntou ele.
Ao que eu respondi prontamente, com um sorriso nos lábios:
- É a nossa filha, que vai nascer daqui a dois meses.
Muitos dos quadros feitos, ao longo dos anos, foram vendidos, outros oferecidos, mas há sempre um ou outro que marca, ou pela luta que deu pintá-lo, ou pelo prazer, e o artista não consegue separar-se da sua obra.
Foi o caso do "Cristo de São João da Cruz", de Salvador Dali. Ainda hoje está connosco.
É a sua maior criação.
Obrigada José, por teres preenchido os espaços vazios, das paredes da nossa casa, com o teu enorme talento.